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A construção de um país habitável

O profeta Isaías, no capítulo 58 de seu livro, é incisivo ao mostrar que a construção de um país habitável implica na condenação de todo tipo de opressão existente. Assistimos, hoje, ao triunfo do capitalismo financeiro. Assistimos, impotentes, a um novo modelo de totalitarismo, com o estabelecimento da ditadura do mercado. É um modelo excludente, na medida em que torna os ricos mais ricos e os pobres mais pobres.

Os versículos 13 e 14 de Isaías 58 indicam que, naqueles dias, Israel adotara um modelo de vida acentuadamente mercantilista, quebrando até mesmo a guarda do dia do descanso.

O profeta Amós também condenou tal obsessão desenfreada pela obtenção de lucro: “Ouvi isto, vós que tendes gana contra o necessitado, e destruís os miseráveis da terra, dizendo: Quando passará a lua nova, para vendermos o grão? e o sábado, para abrirmos os celeiros de trigo, diminuindo o efa, e aumentando o siclo, e procedendo dolosamente com balanças enganadoras, para comprarmos os pobres por dinheiro, e os necessitados por um par de sandálias, e vendermos o refugo do trigo?” (Am 8.4-6).

Eles não suportavam mais guardar o dia do descanso. Nesse dia, todos se preocupavam em cuidar de seus negócios, de alimentar o seu egoísmo, oprimindo o próximo e correndo atrás de lucro. Mas, a vida não é só trabalho e produtividade; é também descanso, comunhão com Deus e solidariedade.

A inobservância do descanso, mencionada no texto, representa um desrespeito ao projeto de Deus. O sábado impõe ao homem uma opção: o seu próprio interesse ou a busca por Deus. E o perigo é que os interesses próprios podem ocupar o lugar de Deus, tornando-se seu rival (Mt 6.24).

O descanso proposto pelo Senhor “leva o homem a reencontrar os mais profundos valores de sua existência e a repartir com os irmãos o dom da vida: cessando o trabalho e o comércio, os homens podem encontrar-se como iguais para fruírem gratuitamente de um relacionamento que faz crescer juntos.” (Bíblia Sagrada Edição Pastoral). Porém, o modelo econômico vigente – centralizado na produtividade e no lucro, através do livre mercado e o Estado mínimo – transformou-se em um novo deus, que promove concentração de renda como nunca visto antes na História; consequentemente, vai destruindo valores preciosos como a serenidade da vida, a tranquilidade da convivência familiar, a solidariedade, a compaixão, o amor, o respeito ao próximo, etc.

O mercado não tem coração; e é insaciável. A meta suprema é produzir, ter lucros, acumular; produzir cada vez mais, com menos gente, e a um custo cada vez menor. Os efeitos colaterais desse modelo são realmente traumáticos.

O momento atual exige, portanto, do povo de Deus, não só o clamor, mas, também, o questionamento de tal modelo econômico profano e desumano que promove a desigualdade, que oprime e exclui. Espera-se do povo de Deus a denúncia profética, clamando “a plenos pulmões”, erguendo a “voz como trombeta” e anunciando ao povo, aos donos do poder e aos governantes a sua transgressão e os seus pecados.

O profeta Isaías nos trás uma mensagem de grande alento, ao mostrar que a construção de um país habitável envolve o sonho e a esperança de que o quadro atual pode ser revertido. As promessas apresentadas pelo profeta são realmente alentadoras. Ele assegura que há uma “luz no fim do túnel”: “a tua luz nascerá nas trevas e a tua escuridão será como o meio-dia.” (Is 58.10).

Havendo disposição para se corrigirem os desvios já apontados, o povo de Deus é desafiado a sonhar; é desafiado a crer na instauração de um novo tempo cheio da bênção do Senhor.

Com o descaso administrativo verificado hoje no Brasil, a corrupção generalizada, a intolerância crescente e a consequente desilusão da população, vive-se hoje uma era de pessimismo quanto à possibilidade de um Brasil mais justo, solidário e fraterno.

Entretanto, um povo que todos os dias ora a Deus, dizendo: “venha o teu reino, seja feita a tua vontade assim na terra como no céu”, não pode, jamais, parar de sonhar e acreditar na possibilidade de reversão do quadro atual.

O Senhor nos garante em sua Palavra: “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, orar e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra.” (II Cr 7.14).

Aqui mesmo, no contexto imediato de Isaías 58, o profeta declara: “Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para não poder ouvir. Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça.” (Is 59.1,2).

Com certeza, o desejo de Deus é que esse país se torne habitável, indistintamente, para todos os brasileiros. Os tempos de crise devem ser também tempos de reflexão e de esperança. Precisamos olhar para a Palavra de Deus e sonhar; e resgatar a esperança; e crer na possibilidade da vinda de um novo tempo, porque esta é a promessa do Senhor: “Então romperá a tua luz como a alva, a tua cura brotará sem detença, a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do Senhor será a tua retaguarda; então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás por socorro, e ele dirá: Eis-me aqui... então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia. O Senhor te guiará continuamente, fartará a tua alma até em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas jamais faltam. Os teus filhos edificarão as antigas ruínas; levantarás os fundamentos de muitas gerações, e serás chamado reparador de brechas, e restaurador de veredas para que o país se torne habitável.” (Is 58.8-12). Amém!

Rev. Eneziel Peixoto de Andrade

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1 comentário

Ótima reflexão! Suas palavras produzem ânimo no meio cristão e nos faz perceber que não estamos sozinhos. Deus o abençoe muito!

Diva

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